Leões, de Leticia Sekito (BR) e Peter Michael Dietz (DK)


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foto priscilla carbonne 2018




Criado há 4 anos, o projeto de intercâmbio artístico de dança “Leões”, parceria da brasileira Leticia Sekito com o dinamarquês Peter Michael Dietz, artista radicado em Portugal há mais de 25 anos, continua na ativa. Neste primeiro semestre, a iniciativa entra na sua terceira etapa, com o designer de som e músico Bruno de Azevedo e convidados. O trabalho será realizado em Lisboa, Portugal, graças ao apoio do CEM (Centro em Movimento) e de outras instituições.
O desejo é que “Leões” volte ao Brasil no segundo semestre de 2019 e circule em novos estados e cidades com ativações que ampliem o envolvimento com outros colaboradores e apoiadores, através de ações de pesquisa, criação, produção e formação.

Em São Paulo, “Leões” teve o apoio da Oficina Cultural Oswald, onde foi realizada a primeira etapa do projeto com o workshop “Corpo Dinâmico/Corpo Flutuante”, com orientação de Peter Michael e a apresentação de “Leões ou alguma coisa suculenta”, com foto de Gil Grossi e vídeo registro de Felipe Teixeira. Também contou com o bate-papo aberto sobre o contexto português de dança independente, no CRD (Centro de Referência da Dança).

Em 2018, a segunda etapa da residência artística voltou a ser realizada com o apoio da Oficina Cultural Oswald e da Fundação Calouste Gulbenkian. Na ocasião, foi realizado o workshop “Dança Suculenta” e duas performances de compartilhamento do “Leões com alguma suculência”, na Oswald. Já no CRD, aconteceram duas performances com a presença da artista Ligia Chaim, na iluminação, de Gil Grossi e Priscilla Carbone, na fotografia, de Rodrigo Gontijo, no registro de vídeo e de Maíra Silvestre, na assistência de produção.
Marco Souza, jornalista e pesquisador-doutor, escreveu uma apreciação crítica para cada uma das performances realizadas em 2016 e 2018.
A realização e produção geral, em São Paulo, ficou a cargo da Companhia Flutuante.
Há vídeo registro das apresentações no Youtube. Se interessar, peça o link de acesso pelo email companhiaflutuante@gmail.com

gil grossi 2018
 Ficha técnica do projeto Leões
Concepção, criação e dança: Leticia Sekito e Peter Michael Dietz
Figurino: Acervo pessoal dos artistas
Criação de luz: Lígia Chaim
Designer de som (Portugal): Bruno Azevedo
Fotografia: Gil Grossi, Priscilla Carbone e PlayBleu
Produção Brasil: Leticia Sekito|Companhia Flutuante e Cais Produções José Renato
Produção Lisboa: Cristina Vilhena
Agradecimentos: Oficina Cultural Oswald de Andrade, CRD – Centro de Referência da Dança, PUCSP Artes do Corpo, Ana Amélia Genioli, Christine Greiner, Cristina Vilhena, Erika Kobayashi, Estela Laponni, Fernanda Raquel, Gustavo LP, José Renato F. Almeida, Lucas Koester, Marcos Moraes, Marco Souza, Mariana Costa, Mariana Viana, Mauricio Florez, Paula Petreca, Plinio Higuti, Rita Forjaz, Sara Souza, Sofia Neuparth e toda a rede de afetos que torna possível este projeto.
Apoio Cultural: Fundação Calouste Gulbenkian Portugal, Ateliê da Mateus, C.E.M. –centro em movimento, CRD – Centro de Referência de Dança de São Paulo.
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Projeto realizado com o apoio de uma rede de pessoas afetuosas e por iniciativa dos artistas.



foto priscilla carbone 2018



foto gil grossi 2018



"Leões ou alguma coisa suculenta", 2016, fotos de Gil Grossi da residência artística na Oficina Oswald de Andrade, São Paulo:


foto gil grossi 2016





foto gil grossi 2016




Leticia Sekito brasileira, artista da dança e performance, criadora da Companhia Flutuante, está interessada na potência do encontro entre pessoas e lugares em movimento. Formada pelo C.E.M. Centro em Movimento, Lisboa/Portugal. Trabalhou no Estúdio Nova Dança e foi co-criadora e intérprete da Cia 2 Nova Dança, em São Paulo. Recebeu os prêmios Bolsa Rede Stagium 97, Proac Dança Circulação 2005 e 2006, Rumos Dança 2006/07, Funarte Klauss Vianna 2009, Funarte Rede Artes Integradas 2011, Fomento à Dança 2010 e 2011, entre outros. Destaca a trilogia de solos: Disseram que eu era japonesa (2004), E Eu Disse: (2007) e O Japão está aqui? (2008), “Flutuante” (2011), “Fluxos em Preto&Branco” (2012-2019), com versão em grupo e a solo, “De 1 para 1” (2015), “Encontros Fortuitos Movidos a Haicais” (2016), o projeto “Leões” (2016/19), com Peter Michael Dietz, além de parcerias em intervenções e projetos de artes visuais e performance. Leticia faz parcerias com a artista visual e performer Suiá Burger Ferlauto, a designer de luz Ligia Chaim, os fotógrafos Inês Corrêa e Gil Grossi, com os músicos e compositores Felipe Merker Castellani, Manuel Pessoa Lima e Ramiro Murillo, o video maker Rodrigo Gontijo, o Núcleo Dança Aberta, a produtora Maíra Silvestre, entre outros. É aikidoista, Educadora do Movimento Somático pelo BMC®, professora de DanceAbility® e terapeuta corporal. Faz parte do Centro de Estudos Orientais, coordenado por Christine Greiner PUC/SP.
http://companhiaflutuante.blogspot.com/

Peter Michael Dietz nasceu na Dinamarca. É performer, bailarino, alguém que se move, criador, designer, orientador, coreógrafo, professor e tem o título de Especialista em Artes-Teatro-Corpo. Tem trabalhado em várias instituições, companhias e estruturas artísticas em Portugal, no Brasil e em diferentes zonas da Europa desde 1989. Trabalha e pesquisa continuamente no ‘c.e.m – Centro em Movimento’ estrutura dirigida por Sofia Neuparth. Trabalha como professor da Escola Superior de Teatro e Cinema em Lisboa. Entre as suas criações contam-se: Leão de Lisboa, Dedication to Nonsense, Versão Live, Valquírias, Made in Brasil, Debaixo dos Lençóis, Valquíria Voltando, Solo Sem Som, Quase Sem Pegadas, Viva o momento, Seven Solos for eleven scenes falling through, Mistureba, Os reis, Alguns pedaços de dança, Nos Somos, I belong here…Believe me... Desenvolve investigação sobre Corpo Dinâmico/Corpo Flutuante/ GODOG/Dança Suculenta e o projeto “Leões” com Leticia Sekito (SP). http://petermichaeldietz.wixsite.com/petermichaeldietz




RUGIDOS
por Marco Souza


  Pensa que é fácil criar dancinha? Não é não, difícil de se conseguir...
                                           Letícia Sekito


Vamos começar pelo final! ” É a frase dita no início da performance Leões com alguma suculência. Desdobramento e desvelamento da anterior Leões ou alguma coisa suculenta, essa recente experiência cênica acrescenta novas camadas na parceria criativa entre Letícia Sekito e Peter Michael Dietz. Os créditos da performance colocam um versus (vs) entre os nomes dos dois, como que para frisar um ambiente em que opostos propõem duelos, embates, enlaces que manifestam como o corpo insurge, afirma e se relaciona com outros corpos. Um versus o outro, mas, não contra o outro, e sim, através do outro, o outro é um meio expressivo em que se busca por um certo equilíbrio que possa transparecer as múltiplas fragmentações de cada um.


priscilla carbone 2018




priscilla carbone 2018
Show-performático-teatral-musical-plástico, Leões com alguma suculência é um dueto multifacetado que aponta para várias direções pelo ponto de partida da questão do erotismo, de como o corpo reage aos diferentes tipos de desejo. Só que o erotismo aqui não se fixa apenas como tabu e tampouco como nudez imperativa e apelo sexual. O erotismo aparece como uma ação engenhosa marcada por um improviso de estilos e condições, mais do que uma simulação explícita de situações eróticas, há uma volúpia minimalista em que presença e ausência coreografam gestos banais com movimentos poéticos de dança. É assim do mais prosaico ao mais delicado que os duelistas Sekito e Dietz esgrimam e disparam intervenções procurando percorrer os cantos e os limites do espaço coreográfico com improvisos curtos ou longos em que movimentos da parte superior do corpo interagem com gestos rítmicos da parte inferior moldando um bailado suave e forte e uma inspirada composição de maleabilidade corporal.
O esforço físico dos dois é irrigado por uma linha singular de humor que cativa os espectadores e os coloca na posição de comparsas ou até mesmo de coautores da performance. Além da cumplicidade aprofundada entre Sekito e Dietz, o público vai, progressivamente, sorrindo, se alegrando e embarcando em uma conivência com os performers e com a performance. A leveza dos dois em cena deixa o público leve, e o humor leva a dança suculenta para outros imaginários, acentuando apetites em que o que é suculento é saboroso ao paladar, e a dança suculenta é prazerosa aos sentidos. Os estímulos às sensações capturam fragmentos da existência e imprimem um senso de conjunto em que os gestos, as ações, as situações e até músicas muito conhecidas como Born Slippy do Underwolrd aparecem com um ar renovado por contrastes cômicos e irônicos. A performance se afasta de momentos de altos e baixos e mantém uma espécie de clímax constante em que os dois performers retém uma combustão de vigor do início até o final da apresentação. Os instantes de criatividade física e apelo emocional que estabelecem um diálogo com a plateia, indicam como Sekito e Dietz se mostram coerentes, maturados e inquietos no processo da criação cênica dessa performance.

foto gil grossi 2018
Leões com alguma suculência começa pelo final e, em certo sentido, não termina porque expande e permite se desdobrar na cabeça dos espectadores mesmo depois de encerrada a encenação. É uma performance de fluxo contínuo, que induz percepções, que ação física se confunde com gesto interior como uma repercussão potente, como um berro longo, como um rugido de leão

Marco Souza, jornalista e pesquisador
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Dezembro de 2018.



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