TREMORES LETICIA SEKITO|COMPANHIA FLUTUANTE

TREMORES






Solo de dança contemporânea desenvolvido com base na improvisação investiga o erotismo feminino e a ambiguidade entre o orgânico e o inorgânico, trazendo à cena melancias, bolas infláveis e placas emborrachadas. Trilha sonora e desenho de luz são compostos em tempo real junto com a coreografia

 

TREMORES, a nova obra coreográfica da bailarina Letícia Sekito criada a partir de elementos autobiográficos, ficcionais e poéticos,  explora fluxos contínuos de estados físico-emocionais transitórios e dá visibilidade às questões que permeiam o repertório da artista ao longo de 18 anos de trabalho continuado – identidades culturais e pertencimento, o estigma da mulher asiática e a reflexão sobre o erotismo na dança. 


Contemplado pela 31ª edição do Programa do Fomento à Dança da cidade de São Paulo o projeto TREMORES traz uma equipe composta majoritariamente por mulheres para colaborar, pensar e criar um universo feito de carne, pele, plástico, suor, afeto, amor, tristeza, alegria, vida e morte. O solo tem colaboração dramatúrgica e interlocução teórica de Fernanda Raquel, provocação cênica de Estela Lapponi, desenho de luz de Ligia Chaim, trilha sonora de Inés Terra e figurino de Joana Porto.


Considerando sua condição de mulher cis, hétero, mãe e nipo-brasileira, que vive na metrópole de São Paulo na criação da coreografia, Letícia Sekito acredita que os temas abordados no espetáculo, quando apresentados para o debate sociocultural, provocam inquietações, desestabilizações e podem fazer tremer ideias, conceitos e práticas normatizadas vigentes. “Os tremores podem ser de prazer e de dor, de temor e euforia, de incerteza e regozijo. Tremores que vão se atualizando, se reconfigurando e moldando o corpo e a dança continuamente. O trabalho propõe uma mudança na percepção sensorial para ressignificar as relações eróticas com um olhar feminino”, explica ela.

 

Em TREMORES, que investiga como a energia erótica pode permear as relações e os espaços, ambivalências ganham cores e materialidades na tentativa por horizontalizar as relações entre tudo que está em cena, sem a busca pelo protagonismo do corpo humano. Sekito atua com as coisas, orgânicas e inorgânicas, lembrando que a matéria também vibra, com tendências e trajetórias próprias.

 

Palco e plateia

No processo de criação de TREMORES Letícia Sekito buscou inspiração na teoria feminista de Audre Lorde e bell hooks, na erótica literatura de Hari Kang (A Vegetariana) e na poesia sensual de Ana Haterly, entre outras mulheres. “Lorde escreve que erótico é compartilhar profundamente qualquer busca com outra pessoa. Agora chega a hora de compartilhar com o público este espaço-tempo para contemplação, para alargar as percepções e expandir as sensações”, conta a bailarina.

 

Na proposta de Letícia Sekito palco e plateia não se separam. Todas as pessoas juntas, permeáveis. As sonoridades também se mesclam e a iluminação não procura focar os grandes acontecimentos, mas os pequenos gestos. Tanto a trilha sonora como o desenho de luz são compostas em tempo real, seguindo a dramaturgia da coreografia com espaços para a improvisação.  No jogo entre aparição e desaparição, proposto pela artista, o desejo penetra no corpo e no ambiente para celebrar o risco e a vitalidade. Uma dança como força de oposição que abre espaço entre o chão, faz escorrer líquidos do corpo e das coisas, rompe com as expectativas, alucina algumas imagens, abrindo-se ao não saber e propondo um outro tipo de visibilidade.

 

Afeto, terror, deleite e febre fazem parte do corpo e também da criação de TREMORES. Eros, erotismo, sensibilidade, aprendizado, sexualidade, pornografia, vulva – nomes, conceitos, ideias que moveram e movem a artista pelo lugar suculento que propõe.

 

TREMORES não é uma declaração ou afirmação, mas um convite para experimentar, estar com as pessoas, entre o inerte e o que se move, entre as coisas animadas e os objetos passivos nesse viés de horizontalidade, jogo e despertar dos sentidos. Talvez seja mesmo para repensar a relação entre atividade e passividade e fazer tremer o ordenamento usual – uma questão de sobrevivência”, destaca Sekito.

 

O solo TREMORES está inserido no projeto de mesmo nome que envolveu não só a criação, montagem, ensaio aberto,  estreia e temporada em São Paulo, no Teatro Municipal Artur de Azevedo e SESC Avenida Paulista, entre outubro de 2002 e março de 2023, mas também ações de formação artística e de público como as oficinas de Respiração Musubi no Kokyu-hô com Ivan Okuyama Sensei, Esculpir a voz com Inés Terra, Oficina de DanceAbility® com Estela Lapponi, a residência artística sobre o processo de criação e Dança Suculenta, a mesa de conversa sobre "Desafios Criativos e Comunicacionais no Processo de Acessibilidade em Dança", com Estela Lapponi.   

 

 



Sobre Leticia Sekito

Artista da dança e performance, criadora da Companhia Flutuante, está interessada na potência do encontro entre pessoas e lugares e em movimento. Formada pelo c-e-m Centro em Movimento, Lisboa/Portugal, trabalhou no Estúdio Nova Dança e foi cocriadora e intérprete da Cia 2 Nova Dança, em São Paulo e atualmente desenvolve os projetos Para se ver o que é possível, Fluxos em Preto&Branco #21 e Práticas por uma Dança Suculenta. Leticia é professora de dança, diretora de movimento, Educadora do Movimento Somático pelo BMC®, professora de DanceAbility®, Aikidoista e terapeuta corporal. Faz parte do Centro de Estudos Orientais, coordenado por Christine Greiner PUC/SP, do Movimento a Dança se Move, do Espaço Extranho e do Deha Terapias Integradas.

 






Ficha técnica:

 

Concepção, Criação, Direção Artística e Dança – Leticia Sekito.

Colaboração Dramatúrgica e Interlocução Teórica – Fernanda Raquel.

Provocação – Estela Lapponi.

Desenho de Luz – Ligia Chaim.

Trilha Sonora – Inés Terra.

Figurino – Joana Porto.

Direção Visual – Leticia Sekito.

Fotografia e Vídeo – Felipe Lwe.

Preparação Corporal – Ivan Marcos Okyuama Sensei (Respiração Musubi no Kokyu-hô), Mara Guerrero e Mariza Virgolino (Pilates), Lisani Albertini/Quiropraxia, Priscila Carbonne/Rolf.

Design Gráfico – Érico –Peretta | Várzea Design.

Assessoria de Imprensa e Gestão de Redes Sociais – Nossa Senhora da Pauta.

Gestão do Projeto – Vanessa Lopes e Cooperativa Paulista de Dança. Produção – Corpo Rastreado | Danusa Carvalho e Gabi Gonçalves.

Realização – Sesc São Paulo e Programa de Fomento à Dança - Secretaria Municipal de Cultura.

Apoio Cultural – Associação Pesquisa de Aikido, Casa Líquida, Casa de Zuleika, CRD – Centro de Referência da Dança, Dorsalis Quiropraxia, Espaço Extranho, Espaço Tekoha, Oficina Cultural Oswald de Andrade e Sala Mara Guerrero.

 

 



Sobre a interlocução dramatúrgica e a interlocução teórica, por Fernanda Raquel

Pensar a dramaturgia em dança é colocar-se como cúmplice de um processo de criação. Não é o cúmplice que toma as decisões, mas ele exerce o papel de trazer questionamentos e colaborar com possíveis soluções para problemas que surgem no desenvolvimento de um plano. Neste caso, o plano é uma coreografia, o solo de dança “Tremores”, de Letícia Sekito.

Como colaboradora dramatúrgica, que também tem o papel de criar interlocuções teóricas, tenho acompanhado a trajetória de pesquisa, fazendo perguntas que contribuam para encontrar coerência e sentido às escolhas que estão sendo formuladas coreograficamente. Além de perguntas lanço também algumas pistas visuais, textuais, conceituais. Foi assim que chegou o texto de bell hooks, “Eros, erotismo e o processo pedagógico”, parte do livro Ensinando a Transgredir (2017), sobre a importância do corpo nos processos de aprendizado do mundo, uma espécie de educação sensível que desloca a força da autoridade, a paixão como potência de criação.

A sexualidade feminina, tema que percorre o solo de Letícia, tem sido assunto de discussão teórica em diferentes campos de pesquisa, e tem nos movido sobre o modo como pensamos o erótico desde a modernidade. E a tentativa tem sido de desvincular o erotismo da pornografia, muito conectada à ideia de consumo e objetificação dos corpos – sobretudo os femininos.

Por essa mesma razão, foi importante a fruição do espetáculo “A história do olho – um conto de fadas pornô-noir”, de Janaina Leite, criado a partir de estudos do livro A história do olho de Georges Bataille, importante obra sobre o erotismo na literatura. O espetáculo instiga a relação entre teatro e pornografia de uma maneira bastante provocativa, colaborando para a reflexão sobre Eros e a cena performática.

As teorias feministas têm sido importantes para ampliação da noção de erótico. Não apenas as teorias, mas também a arte feminista, como os textos de Carolee Schneemann, “A Morfina da Vulva” ou a poesia da portuguesa Ana Haterly, descoberta em meios às leituras para o desenvolvimento do projeto:

que te vincula ao corpo

ao enxame tático dos afetos

terror?

deleite?

febre?

O desejo penetra-nos ao corpo

De maneira mais detalhada

(2005)

 

Todos esses materiais vêm servindo à dramaturgia para fundamentar a ideia do Eros feminino e da mulher como criadora e encantadora de mundos. Os textos que seguem abaixo são modos de estruturar dramaturgicamente elementos que vão aparecendo durante os ensaios de Letícia Sekito para o solo “Tremores”.

 

Uma pequena melancia pode ser um coração (27/04/2022)

Defumar. Equilibrar. Acomodar. Respirar. Tremer. Vibrar.

Girar. Inclinar. Puxar. Levantar. Ondular. Toque. Parede. Ruído. Ângulo. Sombra.

Bascular. Engolir (o sol). Salivar (o de dentro da boca). Morrer (só um pouco, uma pequena morte). Soprar. Pendurar(-se).

Andar sobre o macio para amansar os poderes (dos modelos masculinos). De um lado. Do outro lado. Posicionar-se diante de.  Fomos alertadas.

O topo é uma melancia e pesa sobre o macio do corpo, se move com o movimento do corpo. Uma melancia também pode ser (do tamanho de) uma cabeça. Uma melancia pode apoiar uma cabeça. Uma melancia pode fazer deslizar uma cabeça. Uma cabeça pode estar na guilhotina.

Uma melancia pode ser um coração – erótico, com sensação e sentimento. Como partilhar profundamente qualquer coisa com outra pessoa?

Uma pequena melancia pode apoiar um corpo grande. Celebremos o erótico. Sejamos perigosas. Dancemos a nossa dança, o nosso modo de amar, eis nossa força vital.

Melancia e pés. Melancia e testa. Melancia cabeluda. Melancia e axila. Melancia e peitos. Melancia e costas. Melancia entre as escápulas. Para frente e para trás, várias vezes. Cuidado, uso sem consentimento é abuso.

Alargamento das frestas, afastamento das pernas, funcionamento dos músculos... Dançar como força de oposição à sociedade anti-erótica. Dessexualizar para erotizar, eis a lição.

 

Uma traficante de armas que medita (11/05/2022)

Uma mulher com uma melancia. Na cabeça, não no pescoço, como usam quando querem aparecer. Aos poucos o escuro vai ficando claro. Ela sente o peso da melancia pesar, da cabeça aos pés. Ela está em pé, num lugar não central no espaço.

A apresentação não se dá em palco italiano. A exploração não se dá com ênfase na frontalidade do espaço. Os espectadores abraçam a performer, como a performer abraça sua melancia. É sua, faz parte do seu corpo, e às vezes se associa a ele de maneira estranha. Esse corpo de mulher é composto de muitos outros corpos de mulheres, das que vieram antes dela, e de lugares diferentes do que ela veio.

Essa mulher tem ascendência asiática. Não sei se isso chega a ser importante. Importa mais quando ela solta um som de suas profundezas, que me soa como os cantos do tradicional teatro Nô, japonês. É dramático, é lírico, mas também é visceral. O som sobe pelos canos do corpo e evoca vozes de outro tempo. Ela canta enquanto apoia as costas na melancia, que, por sua vez, se apoia no chão.

Onde será que estão os tremores? Eles fazem separar as placas tectônicas que estavam coladas no chão. Na fenda profunda resta a performer e sua melancia. Sob o buraco do corpo está a melancia sobre o buraco das placas. A melancia também pode ser a cabeça de um bebê saindo da mulher. É isso mesmo ou só a minha imaginação? Só imaginação. Mas imaginação já é tanto. Mulher e melancia formam uma composição coreográfica.

A melancia está entre as mãos da mulher, tocada, apalpada. A palavra “erótico” vem da palavra grega Eros – a personificação do amor em todos os seus aspectos. Ela lambe a melancia, ela sente a pele da melancia na sua pele de mulher. Há um senso de satisfação. Um sentir no toque, na lambida, no encaixe, no arfar da respiração, no burilar os dedos no corpo-melancia, na luminosidade que atravessa a janela. Um sentir da força invisível que é capaz de abrir o visível, assim como o vento (invisível) abre a janela (visível).

Ela se sustenta graças à melancia e deixa o sol tocar seu corpo todo, ela se dispõe diante do sol, se encaixa na faixa de luz e sombra que adere na parede. Levanta os braços como quem sente o ar no seu entorno. O seu entorno ganha materialidade.

Ela cai e sente os ísquios tocarem o chão, que já foram tocados por outros ísquios também. Ísquios, calcanhares, joelhos, cabeças, colunas. Cada parte do corpo afirma a força vital da mulher que dança com a gente. Erótico é compartilhar profundamente qualquer busca com outra pessoa.

A melancia cai, mas não se quebra. Se apoia no chão, como se apoiou o corpo da dançarina. É que ela ainda não queria se despedir. No entanto, a dançarina a afasta, e a vê indo embora, para um canto da sala. Acabou, mas é apenas uma breve despedida, elas ainda vão se encontrar. A melancia promete, e a dançarina também.

 

É só o começo (10/08/2022)

Fazer rolar. Deixar a leveza dos materiais adentrar o espaço, cuidadosamente. Elas vêm de todos os lados. As bolas. De que são feitas? De ar, contornado em forma de melancia, rajada. Perfeitamente redondas, como uma melancia jamais seria. Qual melancia? A que entra carregada pela mulher. A mulher e sua melancia se movem, movem o entorno, me movem com elas. Me perco na paisagem. Uma plantação? Um novo mundo? Uma única habitante? Tenho a sensação de que ela não está sozinha, nem eu. Há toda uma plantação de gente como nós, nascendo nesse novo chão.

A mulher é engolida pela terra e eu imagino que elas estão se amando, se sugando. Começo a ouvir o som da sucção. A mulher está mamando a energia vital, e também está alimentando a terra, cultivando, se cultivando. A terra está grávida, escuto os sons do útero da terra. Ou seria o útero da mulher, gerando um outro mundo? Uma mulher que faz tremer o chão ao tremer-se toda, me faz tremer também. Por dentro, como a terra. Somos feitas da mesma matéria orgânica e cibernética. Natureza e cultura nunca estiveram separadas. Quem inventou essa ficção estava mal intencionado, certeza.

A mulher reemerge. O que acontece quando se ergue do centro da terra? Qual seu estado? Como vai olhar em volta? Como vai mover tudo de novo? A melancia virou seu bebê? Talvez seja a hora de se separar da pequena criança, deixar que ela trilhe seu próprio caminho. Essa hora é sempre difícil para as mães. Quando? Nunca sabemos, só sabemos que é preciso, que é melhor para nós duas. O tempo das coisas... Como acessar? Às vezes é preciso saber identificar o fim. Não é sobre o fim, mas a origem, é preciso permitir que vejamos. Não é preciso balbuciar na velha linguagem. A linguagem é já outra.

Olhos abertos, para ver o que virá. Os olhos fechados me afastam, me fazem lembrar do medo que sentia. Mas, essa mulher me ensina sobre desejo, não sobre o medo. Sobre o eros, subversivo. Ela plantou um mundo, e precisa ver o que está criando. Império dos sentidos. Sobre morte e sobre vida.

Quando quebra, queima. Quando quebra, escorre. Quando quebra, arde. Quando quebra, rompe. Quando quebra, dói. Quando quebra, geme. Quando quebra, alucina. Quando quebra, incendeia. Quando quebra, lâmina. A faca é o próprio corpo. Da mulher. Corta e abre as entranhas da fruta, de si mesma. Todos veem. Eu vejo, eu me vejo. Mas, não se trata de exibição. É outro tipo de visibilidade.

Não mais o falo, outra carne. Macia, elástica, suculenta. O som pingando. É a vértebra, é o vórtice. A voragem aquietou, mas continua lá, turbilhonando.

Como terminar? Será que essa mulher volta para o chão? Será que ela apenas observa? Será que ela deixa a paisagem escorrendo para nós? Não está nada pronto. Acabou? Não, é só o começo.




Provocação artística por Estela Lapponi

Estela Lapponi,  performer, artista visual e ativista artística deficiente  tem colaborado com o processo de criação de Tremores desde o momento inicial da concepção do que se tornou este projeto colaborando com seu olhar aguçado sobre as questões pertinentes ao processo artístico de Leticia, à relação do feminismo e do erótico na arte, assim como sobre a relação da arte com a deficiência, das questões das dificuldades da acessibilidade e invisibilidade dos artistas deficientes na dança e artes em geral.  

Em Tremores sua participação se adensou e tem acontecido de forma intensa na provocação artística realizada no acompanhamento do processo de criação, trazendo provocações relativas as escolhas da composição coreográfica de forma geral, como estado cênico e qualidades de presença e de movimento,  sobre os elementos  visuais do solo (cenário, figurino e luz), na relação com trilha sonora. Também tem feito provocações através de referências artísticas de outros artistas, assim como de filmes, vídeos e referências do campo da moda, da cultura e mídias digitais.

Em relação as ações de compartilhamento e contrapartida propostas no projeto - oficinas, ensaio aberto, conversas, relação com o público e locais das ações -  temos conversado muito sobre o alcance e possibilidade concreta do projeto ser mais acessível, relação com as limitações das instituições, suas estruturas arquitetônicas, falta de verba adequada, desafio criativo de audiodescrição artistica, limites e desafios internos e externos ao projeto.

 

Estela diz:

"Participar do processo de criação do solo TREMORES como provocadora artística tem sido muito interessante, pois me coloca em um lugar de inquietação dramatúrgica.

O que e como Letícia quer dizer com essa criação, estão caminhando juntos?

Um exercício de alteridade artística, que me põe a serviço de um desejo alheio e que de certa forma passa a ser o meu também.

Embora a palavra provocar tenha um significado de “forçar alguém a fazer algo”, me percebo mais como uma companheira que questiona as dúvidas e incertezas do fazer do outro sobre si mesmo, e devolve um - “E por quê não?!”

Dar vazão às inseguranças de um processo criativo, acredito ser essencial para a afirmação de uma estética própria. " Julho 2022



 Criação trilha Inés Terra

O processo de criação da trilha sonora tem tomado corpo a partir da presença de Inés Terra nos ensaios onde pudemos experimentar diferentes procedimentos de criação de material sonoro para a trilha partindo tanto de elementos previamente gravados e mixados durante o ensaio, como elementos vocais e mixagens feitas ao vivo por Inés. 

No momento a trilha está em processo de finalização sendo feita a opção de trabalhar com camadas sonoras criadas digitalmente, assim como sonoridades criadas pela voz de Inés com a presença de elementos gravados do som de água, seja saliva ou seja água manipulada em recipiente, fazendo uma conexão da presença do feminino, do erótico, do orgânico em fricção com elementos metálicos e sintéticos.

Compondo a trilha também tem se apresentado sonoridades vindas dos materiais cenográficos que, manipulados e tocados pela dançarina, produzem sons e ruídos , como é o caso das bolas de plástico, do tecido do figurino, dos tapetes de E.V.A. e da melancia, que se incorporam à trilha amplificada por conta da presença da modulação de volume e silêncios da trilha.

Leticia também compõe a trilha a partir da exploração vocal, variando entre sonoridades viscerais, sonoridades da própria respiração, da voz cantada e da voz falada realizada ao vivo. 

Destacamos que a realização da Oficina de Voz coordenada por Inés e aberta ao público interessado foi de grande valia para Letícia ter aprofundado e expandido as possibilidades  de criar ao vivo criado um trabalho de voz específico conectado à trilha do solo.

A trilha gravada está em fase de finalização, ainda sem tempo de duração definido, mas já com uma qualidade que contempla elementos sonoros mais orgânicos e outros elementos mais sintéticos e eletrônicos. Experimentações em relação à duração e variação de volume e mixagens possíveis estão em andamento.




Criação de luz Ligia Chaim
A pesquisa da criação da iluminação tem se baseado nas condições e contexto dos ensaios que têm acontecido no período do dia, com a presença da luz natural, no recorte das janelas e frestas dos espaços e na variação de tonalidade de uma luz solar coincidindo com a proposta cênica de apresentar um trabalho que discute o erotismo e a erotização dos espaços sem cair nos clichês e referências visuais do que é habitualmente considerado uma "luz para uma cena erótica".
Há uma escolha de se criar uma iluminação que trabalhe a sensação solar, onde a artista e o espaço estão " às claras", dialogando com o processo íntimo e das questões internas da artista que se abrem ao público de forma ambígua e não mascarada.
Dentro da conversa com a intimidade já aponta a vontade de trabalhar com reflexos vindos de superfícies que possam ser criadas com espelhos ou materiais reflexivos e também a utilização de colorização da luz para reforçar a relação com o jogo ambíguo entre o que é real e fake, o que é orgânico ou inorgânico, elementos pop e elementos de cor neon dialogando com o figurino e o cenário.
Com a presença desse tom intimista, a pergunta que se coloca para a criação de luz recai sobre como dosar a utilização de recursos e tecnologias de iluminação - lanternas, luminárias, refletores? Que tipo de recursos e em qual quantidade utilizá-los?
Para definir também o rider e plano de luz leva-se em conta a relação com especificidade do espaço cênico destinado às apresentações e a presença de momentos de improvisação nos movimentos de luz a serem executados durante a apresentação.



Na criação de figurino Joana Porto apostou um tecido leve, transparente e com um brilho viscoso que se encaixou perfeitamente com a proposta da coreografia em abordar o erotismo feminino.

Formada em moda na Escuela de Arts y Técnicas de la Moda em Barcelona (Espanha) com mestrado na Whinchester School of Arts em Londres (Inglaterra), Joana trabalha com cinema, dança e teatro. Em 2010 foi a vencedora do Prêmio Shell de melhor figurino com peça “O Idiota”, baseada na obra de Dostoiévski realizada pela Mundana Companhia.







                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                    still Felipe Lwe








Postagem em construção!!!!
Logo mais atualizaremos com fotos e depoimentos do público sobre as atividades realizadas durante o projeto com oficinas, conversas, mesa redonda, links com o vídeo registro, matérias da imprensa e mais!

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Fluxos em Preto&Branco #21

Dança 1 para Postal